Bom dia, família!
Grécia. Um belo lugar, nunca antes citado em Negócios pelo Mundo. E, é claro, me peguei pensando em como é possível que eu nunca tenha falado da Grécia por aqui. Curioso, já que foi exatamente assim que comecei o post sobre Mark Leonard. Pareço condenado a tropeçar no meu próprio espanto.
Um crítico mais mordaz - ou um hater, como dizemos hoje em dia - apontaria minha falta de criatividade. Mas juro, não é isso. É apenas uma recorrência sincera de surpresa. Nossa publicação já existe há mais de três anos. E toda vez que trago pela primeira vez um país, uma empresa, um case histórico ou uma figura emblemática, penso em como pude negligenciá-los por tanto tempo. Toda estreia em Negócios pelo Mundo me traz um déjà-vu de espanto. Às vezes, até me sinto culpado. Nenhum dos estreantes merecia o atraso da lembrança.
Mas depois me reconcilio comigo mesmo. Nada do que escrevi até hoje foi em vão. Cada personagem ocupou seu espaço por aqui com justiça e dignidade. E talvez esse seja o milagre das coisas: em uma publicação dedicada às oportunidades internacionais, sempre haverá muito a ser dito. Se meu objetivo era mostrar aos investidores brasileiros como o mundo está repleto de oportunidades, talvez a própria impossibilidade de listá-las seja a melhor prova.
Então, que fique combinado: não lamento mais as estreias tardias. Ao contrário, celebro. Porque há muitas primeiras vezes quando há muito o que explorar.
ILYDA S.A.
Website: https://www.ilyda.com/
Ticker: ILYDA.AT
A ILYDA é uma microcap grega com valor de mercado de apenas €35 milhões. Foi fundada em 1992, em Atenas, por Vassilis Anyfantakis e Maria Papadokostaki. Sua atuação é no desenvolvimento, distribuição e suporte de softwares corporativos para o mercado grego. Suas ações são negociadas na Bolsa de Atenas.
Alguns dos principais produtos da empresa são:
MegaTron ERP: principal sistema da ILYDA, MegaTron ERP é um software corporativo voltado a médias e grandes empresas. Oferece funcionalidades completas de gestão empresarial como finanças, estoque, produção, compras, vendas, etc.
MegaTron Retail: solução da ILYDA voltada para o varejo físico. Trata-se de um sistema de ponto de venda (POS) que integra software especializado (front e back office) com os equipamentos de caixa. Compatível com leitores de código de barras, balanças, leitores de cartão e diversos modelos de registradoras.
MegaTron Pharma: versão especializada do ERP voltada às cadeias de distribuição de medicamentos. Entre seus recursos, destaca-se o recebimento eletrônico de pedidos de farmácias e o envio automatizado de comprovantes de expedição.
Dioscourides: sistema da ILYDA desenvolvido especificamente para farmácias de varejo. Trata-se de uma solução que cobre desde a gestão de medicamentos (com dados sobre substâncias ativas, dosagem, efeitos colaterais e legislação) até a emissão de receitas, controle de estoque, integração contábil e comunicação direta com distribuidores. O sistema permite pedidos online, recebimento automático de faturas e integração com registradoras. Com mais de 1.250 farmácias conectadas e cerca de 70% de participação no mercado grego, é hoje o principal software farmacêutico do país.
MegaTron Access Control: sistema da ILYDA voltado ao controle de acesso de pessoas em ambientes com áreas restritas. Permite registrar e monitorar tanto funcionários quanto visitantes, com controle de pontos de entrada, horários de permanência e listas em tempo real (chegadas, saídas, presenças, etc.).
MegaTron DEYA: solução voltada para empresas públicas de abastecimento de água e saneamento (DEYA, na sigla grega).
Além dos produtos padronizados, a ILYDA também desenvolve softwares sob encomenda. São soluções especializadas criadas para projetos selecionados que não podem ser atendidos por sistemas prontos e não têm reaproveitamento comercial.
Pela linha de soluções da ILYDA podemos ver que a estratégia vai do feijão com arroz dos ERPs generalistas até a especialização de aplicações verticais. É assim que a empresa marca presença em uma base diversificada de mais de 7 mil organizações. Seus sistemas vão do balcão das farmácias à mesa dos professores universitários. Dos varejistas aos industriais.
Uma capilaridade bonita no discurso, mas vejamos os números:
Uma primeira preocupação legítima quando olhamos uma empresa é saber se ela está pra morrer. Não é o caso aqui. Longe disso, a ILYDA é extremamente capitalizada e aproveitou da sua saudável geração de caixa para zerar toda e qualquer dívida que tinha.
A segunda preocupação legítima é saber se o negócio tem futuro. Bom, as receitas da ILYDA vinham estáveis até 2023. Mas, por baixo dos panos, um movimento interessante dava as caras. Enquanto a receita recuou 7% entre 2021 e 2023, o lucro operacional disparou 70%. Era um ajuste silencioso que precedia o grande ato. E o grande ato veio mesmo em 2024, quando a exuberância da margem se encontrou com o espetáculo do crescimento. Boom!
O grande ato da ILYDA contou com dois protagonistas: MODIP e-University e myCosmos e-University. Como os nomes já entregam, estamos falando de duas plataformas educacionais desenvolvidas pela empresa. Ambas escaláveis, com margens altas e que se beneficiam de uma onda de transformação digital na Grécia.
“A ILYDA S.A., após licitações promovidas por instituições de ensino superior gregas, assumiu o desenvolvimento e o suporte de sistemas de informação como as plataformas MODIP e-University e myCosmos e-University, que são amplamente utilizadas para a gestão e avaliação das funções acadêmicas.” Relatório Anual 2024
O que exatamente essas plataformas fazem? Vamos lá:
O MODIP e-University é uma plataforma voltada à avaliação institucional e ao monitoramento da qualidade nas universidades gregas. O MODIP auxilia as instituições a atenderem às exigências regulatórias da HQA (Autoridade Nacional para o Ensino Superior), órgão responsável por garantir a qualidade do ensino superior na Grécia.
Já o myCosmos e-University é um ERP acadêmico que automatiza a gestão de todos os processos administrativos e pedagógicos de uma universidade. O myCosmos foi concebido com suporte a vários idiomas, já pensando na possibilidade de uma internacionalização.
A ILYDA venceu a licitação que colocou o myCosmos no centro do projeto “Universidade Eletrônica”, promovido pelo Ministério da Educação da Grécia. Financiado pelo RRF (Recovery and Resilience Facility) - um plano criado em 2021 para apoiar reformas estruturais nos países-membros da UE - o projeto representa uma importante iniciativa digital pra Grécia.
Os contratos recentes fizeram bem, claro, e isso já aparece nas linhas do resultado. Mas e daqui pra frente? Quanto ainda dá pra esperar em termos de crescimento e margens? Confesso que não tenho muita visibilidade. Parte das receitas já contratadas só será reconhecida em 2025 e, fora isso, há sinais de que a ILYDA segue no jogo disputando novas licitações e se preparando para projetos maiores.
No fim do ano passado, os acionistas aprovaram a possibilidade de emissão de até €10 milhões em debêntures conversíveis com prazo de cinco anos. Um valor considerável, dado o porte da ILYDA. Segundo o CEO, Vassilis Anyfantakis, a ideia é estar pronto. Caso surjam novos projetos de grande porte, a empresa quer ter munição para disputar e executar sozinha, sem depender de consórcios ou financiamentos de última hora.
“O raciocínio é o seguinte: a empresa está começando a entrar gradualmente em projetos públicos. Já estamos concorrendo a alguns dos projetos restantes do Plano de Recuperação, que têm prazos apertados, é verdade, e estamos otimistas em conseguir uma parte deles. Para isso, talvez seja necessário formar um consórcio com outra empresa. Caso os pagamentos de obras públicas atrasem, teremos um problema. Se houver prorrogação – embora digam que não haverá – os recebimentos desses projetos vão atrasar um ano, e, consequentemente, os pagamentos também. Por isso, queremos ter um ‘colchão’ para não nos expor. É uma ideia – não é certo que acontecerá. Se não houver atrasos, não teremos problemas. Temos caixa acima de €2.5 milhões e nenhuma dívida. Mas se esses novos projetos que estamos disputando avançarem, aí pode apertar”, Vassilis Anyfantakis.
Já se passaram alguns meses desde a declaração de Anyfantakis, e, desde então, não encontrei nenhuma informação concreta sobre novos contratos fechados. Pode ser que ainda não tenha saído nada ou pode ser que eu simplesmente não tenha achado. Afinal, todo o material da ILYDA está em grego - literalmente - e não seria nenhum absurdo eu perder uma nota escondida sobre uma microcap grega em algum canto da web. Fiquem à vontade pra me contar se souberem de alguma coisa.
Se Vassilis Anyfantakis estava blefando ou não quando falou sobre as possibilidades de a ILYDA disputar grandes projetos, eu não sei. O que eu sei é que o camarada é CEO, fundador e controlador da empresa, com cerca de 50% das ações. Ou seja, se esses projetos saírem do papel, ninguém tem mais a ganhar do que ele.
A ILYDA acaba sendo uma empresa difícil de pesquisar. Tudo é em grego, não tem cobertura, não tem call, não tem resultados trimestrais… Minha impressão é de que se trata de um grande peixe de pequenos lagos. Forte em nichos - como o farmacêutico e de saneamento - o que é uma forma inteligente de se posicionar em um setor tão competitivo e com grandes players como o de software.
A vitória recente no setor educacional trouxe a sensação de que a ILYDA pode, sim, nadar em águas maiores, impulsionada pela transformação digital do país. Com um modelo de negócio escalável, lucrativo e sendo negociada a modestos ~7x EBITDA - mesmo após se valorizar 100% no ano - a verdade é que a ILYDA não precisa de muito para estourar. Quem sabe mais um contrato? Falam sobre a área da saúde... Vai saber.
Ένα μεγάλο αγκαλιά σε όλους,
Leo Caroli
Bom dia and thanks for sharing,
I have the same problem: the lack of visibility and the level of normalization of future growth. However, the clean balance sheet and the tremeundous margins compensate for the lack of communication (of a well-aligned management). Not sure that EBITDA is a good indicator given the level of capitalized R&D (500k in 2023). Contradictory things too, like the capital increase for free shares last year, followed by a possible share buyback program in 2025. We are clearly going off the beaten track here, which perhaps explains why we pay 10x the profits of a software company.