Ticker: OTC PINK: $IVRO
Website: https://www.invitrointl.com/
Era difícil de imaginar isso no início, mas hoje a 'Negócios pelo Mundo’ é seguida por alguns dos melhores gestores brasileiros. Profissionais do mercado cujo trabalho tem minha admiração. O que fica pra mim é não só a satisfação de ser acompanhado por essa tropa de elite como também a convicção de que, em algum ponto, o brasileiro vai ter um portfólio com muito mais exposição às empresas internacionais. Não só de empresas americanas ou de multinacionais super famosas, mas também de empresas low-profile das mais variadas regiões.
Isso, meus amigos, vai acontecer. Eu sei que vai.
Dito isto, agora preciso me desculpar com esses nossos amigos grandes gestores que nos acompanham. O post de hoje não é pra eles. A nossa empresa do dia é tão pequena que não faria cócegas no portfólio dessa turma. E, por ser tão pequena, essa empresa também não é para órfãos e nem viúvas.
Pra que então vou escrever sobre essa empresa? Pra começar, porque é divertido. Não tem sentido ter uma newsletter se não for pra se divertir escrevendo. Mas também pra mostrar para os leitores um outro tipo de oportunidade que existe mundo afora: negócios pequenos demais até para os padrões de uma nanocap. Bancos, fundos e grandes investidores não podem alcançar empresas como a de hoje, mas o investidor pessoa física pode. E é pra esse investidor que dedico o post de hoje!
Hoje vamos falar da InVitro International, uma empresa de $2.3 milhões de valor de mercado. Você leu certo, não foi um typo: estamos falando de pouco mais de dois milhões de dólares de market cap e nada mais!
A InVitro é uma empresa que desenvolve métodos de teste para a elaboração de cosméticos e produtos de cuidado pessoal de forma a dispensar o uso de testes em animais. A empresa desenvolve e comercializa kits e sistemas de ensaio invitro para detectar, classificar e prever o nível potencial de irritação, toxicidade ou corrosividade de substancias para o olho humano e o tecido da pele. Tudo feito sem o uso de animais vivos e nem de tecido animal.
Longe de mim ser daquela turma que se esconde atrás do rótulo ESG como estratégia de marketing, mas a InVitro parece ter uma boa missão. Quer dizer, se temos meios eficientes de testar se um produto causa danos para a pele sem precisar usar um coelho, então por que não adotar?!
Mas esse trabalho não é simples. Primeiro tem que desenvolver a tecnologia, fazer vários testes e então buscar aprovação de órgãos reguladores em diferentes jurisdições. Quando a InVitro começou, muitos dos órgãos reguladores globais que hoje tratam do assunto sequer existiam.
Em 1992, o método Corrositex® criado pela InVitro foi o primeiro teste invitro aprovado pelo governo dos Estados Unidos. Com esse incentivo, pouco tempo depois alguns estados americanos proibiram o uso de animais em testes de corrosão de pele. A Califórnia foi um deles. Mas demorou até 2014 até que o Corrositex® alcançasse o status GHS* e, com isso, tivesse maior penetração global. Um longo processo.
Os olhares mais atentos perceberam que nessa postagem já falei da aprovação de um método em 1992 e também do minúsculo valor de mercado da InVitro. Isso por si só não é bom sinal. São 30 anos de operação pra alcançar $2 milhões de market cap, o que levanta alguns alertas. Mas antes que eu faça algum contraponto, vamos aos números:
A maioria das vendas vem dos Estados Unidos, como era de se esperar de uma empresa californiana mais familiarizada com o ambiente regulatório do próprio país. Pra expansão global, a InVitro teve que recorrer a uma parceria com um laboratório italiano chamado INTEGRA. A INTEGRA auxilia a InVitro como centro de treinamento e distribuidor na Europa, além de ajudar a navegar as exigências regulatórias da tecnologia de testes invitro com a OECD**.
De forma resumida, o que temos é uma empresa lucrativa que faz +-US$ 1 milhão em vendas desde sempre, balanço conservador sem dívidas e com caixa até demais, negociada a 1.6x BV. Diga-se de passagem, um BV que cresce há anos assim como o caixa da companhia. Devagar mas avante.
No universo das small-caps, muitas empresas escolhem ficar nesse estado estacionário pra vida toda. É deprimente, eu sei bem. Mas é como funciona. O management controla uma companhia que o remunera bem e faz o suficiente, dando-se por satisfeito. É muito irritante para o investidor que, desiludido, acaba invariavelmente saindo fora da posição depois de anos de frustração. Mas no caso da InVitro, alguns indicativos apontam maiores ambições.
No fim de 2017, a InVitro atingiu os estágios finais para aprovação pela OECD do seu teste de irritabilidade ocular, o Ocular Irritection®. A partir dai, uma série de mudanças se sucedeu. Richard Ulmer, que foi presidente e CEO da companhia por quase 25 anos, deixou o cargo de presidente. A função hoje pertence a Atul Jhalani, ex-executivo da Masimo e um sujeito com experiência em vendas e marketing na indústria de healthcare. Nas palavras do próprio press release, a chegada de Jhalani foi para “accelerate the company’s strategic objective of becoming the leading “in vitro” non-animal testing company globally”.
Em Dezembro de 2019, veio a aprovação final do Ocular Irritection®. Junto com o Corrositex®, a InVitro passou a ter então dois métodos de teste in vitro comercializáveis e globalmente aceitos.
De 2020 em diante, a InVitro passou a ser mais aberta e transparente na sua comunicação com investidores, inclusive divulgando resultados trimestrais. Por ser uma Pink Sheet, a InVitro não é listada em nenhuma grande bolsa como NYSE ou Nasdaq. Isso quer dizer que a InVitro não reporta pra SEC e não precisa dar maiores satisfações para os acionistas. Hostil, né?! Não é a toa que investimentos em pink sheets são mais arriscados e muitas dessas empresas são de caráter duvidoso.
Então não deixa de ser uma boa prática quando uma empresa pink sheet se abre pro mercado. A InVitro resolveu se abrir e, pra auxiliar na tarefa, contratou uma empresa especializada no riscado, a IRP (Investor Relation Partners). Microcaps costumam fazer esse tipo de parceria quando sentem que estão no estágio de serem mais reconhecidas pelo mercado. Com a InVitro não foi diferente:
“Com nossas melhorias financeiras contínuas, economia em recuperação e melhor situação regulatória, acredito que a InVitro apresenta uma história de investimento extremamente subvalorizada que irá ressoar com a comunidade de investimentos em micro-cap. Neste cenário, acreditamos que este é o momento perfeito para reforçar nossos esforços de relações com investidores e garantir as melhores práticas para gerar valor para os acionistas.” Richard Ulmer, CEO
Além da maior transparência, nos últimos dois anos a InVitro seguiu com outras sinalizações interessantes. Reforçaram a busca por parceiros globais pra distribuição dos seus testes, recompraram algumas ações e, mais recentemente, assinaram uma carta de intenção pra compar um novo laboratório nos Estados Unidos.
Além disso, surgiram também alguns tailwinds pra empresa. A China eliminou a exigência de testes em animais para boa parte dos cosméticos importados, o México se tornou o primeiro país da América do Norte a proibir a venda de novos cosméticos testados em animais, e New Jersey se juntou a California, Nevada, Illinois, Virginia, Maryland, Maine e Hawaii como mais um estado a também proibir a venda de novos cosméticos testados em animais. É difícil imaginar que essa tendência vai parar por ai.
Além de muito pequena, a InVitro tem um alto insider ownership e um float de 62%. Junta tudo isso e o que fica é uma empresa extremamente iliquida. A falta de liquidez em negócios desse perfil é um fato da vida e, portanto, requer um cuidado especial do investidor. Se por um lado essa falta de liquidez combinada com a popularização de uma boa história pode criar uma valorização exponencial, por outro o investidor pode se ver obrigado a realizar grandes perdas pra conseguir sair da sua posição. Basta olhar pro gráfico de cotação e ver o efeito disso. Um tiro de $0.17 pra $0.50 em uma semana, uma queda pra $0.05 na outra. Como eu avisei, não é para órfãos e nem para viúvas.
Mas talvez seja pra você. E se for, boa sorte!
Obrigado por mais essa leitura!
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*Sistema globalmente harmonizado de classificação e rotulagem de produtos químicos
**A OCDE é vista como a principal autoridade reguladora do mundo em métodos de teste in vitro.