Era uma vez um bêbado.
Voltando para casa a passos trôpegos, o bêbado se dá conta de que algo não estava certo. Era a chave de casa. Revira o bolso, coloca a mão lá no fundo, e nada de achar a chave.
“Se chego nesse estado e toco a campainha a mulher me mata”, pensou o bêbado. Nem o álcool tira certas preocupações das pessoas.
Apoiou então a mão no poste, abaixou a cabeça e pôs-se a procurar pela chave no chão.
De longe, um guarda via tudo.
“Vai vomitar”, pensou o guarda.
Mas o bêbado não vomitou. Ele estava mesmo procurando alguma coisa. Por meia hora o bêbado ficou ali, vasculhando todo centímetro daquele chão debaixo do poste.
O guarda não aguentou e resolveu ir lá ajudar aquela pobre alma.
“O que você está fazendo aí?”
“Boa noite, senhor. Estou procurando minha chave. Se não encontro, a mulher me mata.”
“Mas você já está aí tem meia hora!”
“Pois é. Acontece que se não encontro a chave, a mulher me mata”, repetia o bêbado
O guarda olhava para o chão e não via nada ali.
“Mas você tem certeza que foi aqui que você perdeu a chave?”
“Não tenho não senhor.”
“Não tem?! E por que então você só está procurando aqui?”
“Ora, porque é aqui que está a luz”, respondeu o bêbado apontando para o poste.
Queria ter sido eu a inventar essa narrativa mas na verdade essa é uma anedota bem antiga que busca ilustrar um viés conhecido como Streetlight Effect. O viés, como podem imaginar, trata-se de procurar apenas onde é mais fácil de olhar.
Ou seja, o extremo oposto do que fazemos nessa newsletter. Aqui, o que tentamos é justamente apontar uma lanterna para lugares sem iluminação. Assim, quem sabe, você mesmo possa encontrar sua chave em algum canto inesperado.
É por isso que hoje não falaremos do Sillicon Valley Bank. O SVB é um ótimo case, com certeza. Mas é também um caso passado que já concentra todos os holofotes.
Ao invés disso nós vamos falar de uma empresa que vende equipamentos para piscinas. Piscinas, por que não?! Quem sabe tua chave não está por lá…
Com vocês, a Pool Corporation!
Ticker: NASDAQ: $POOL
Website: poolcorp.com
Fundada em 1993, a Pool Corporation tem sede na Louisiana e é a maior distribuidora global de materiais e equipamentos para piscinas. Além de materiais para piscinas, a Pool vende também equipamentos de irrigação e produtos de paisagismo. O foco é em melhorar a qualidade do espaço aberto das residências.
Como todo distribuidor, o valor da Pool está em consolidar grandes compras dos fabricantes e vender para os consumidores em melhores condições do que eles conseguiriam de outra forma. Ao todo a Pool serve 125 mil consumidores, sendo a grande maioria composta por pequenos negócios familiares como empreiteiros e pequenas lojas do ramo. Os fornecedores também representam um mercado fragmentado, o que incentiva a existência de um distribuidor na indústria.
Atuante no mercado de M&A, a Pool acabou alcançando um market share de quase 40% nos Estados Unidos. Hoje, o tamanho da presença física e do catálogo de produtos fazem da Pool um adversário chato de encarar. São 420 centros de venda espalhados por 12 países que distribuem mais de 200 mil produtos, de mais de 50 categorias, vindo de mais de 2.200 fornecedores. É coisa pra caramba!
Pessoalmente eu não imaginava que existissem tantos produtos para piscina. Até então minha referência eram aquelas piscinas bem tradicionais de antigamente. A primeira vez que desconfiei da obsolescência da minha visão sobre o assunto foi quando esbarrei em um programa de TV sobre construção de piscinas. O simples fato de existir um programa de TV sobre isso já me surpreendeu. E mais surpreendido fiquei quando vi as piscinas que os caras faziam, típicas de um parque temático.
É claro que esses projetos cinematográficos não representam a maioria das piscinas dos Estados Unidos, mas muitas são as inovações que hoje fazem parte das piscinas residenciais. Novos sistemas de aquecimento e iluminação, bombas de velocidade variável, controles automáticos, novos sistemas de limpeza, dispositivos de economia energética, opções de revestimento e paisagismo, e por ai vai.
Toda essa nova tecnologia, no entanto, não está presente na maior parte da base instalada. A idade média das piscinas nos Estados Unidos é de 22 anos, de onde estima-se que 70% não possui nenhum tipo de automação. Esse dado indica a oportunidade que existe para a Pool no segmento de reformas & upgrades, que hoje representa 20% da receita da empresa. Os demais segmentos são o de novas construções (20%) e o de manutenção & reparos (60%).
A vantagem de gerar tanta receita com manutenção & reparos é que estes são, de forma geral, gastos não-discricionários cuja recorrência dá certa segurança e previsibilidade para a Pool. Se por um lado empreiteiros podem congelar gastos com novas piscinas em períodos de mercado imobiliário morno, por outro lado proprietários de piscinas continuam tendo que mante-las limpas. No final das contas, a Pool acabou se provando um negócio resiliente ao longo dos anos.
Eu falei resiliente? Deixa pra lá. Isso é muito mais do que resiliente. Isso é qualidade! Estamos falando de uma década de crescimento e rentabilidade. Uma década de 12% anualizado na receita e 25% anualizado no lucro líquido. Estamos falando também de alavancagem operacional. É sempre bacana ver uma empresa de nicho caminhar desse jeito por tanto tempo e chegar a mais de US$ 6 bilhões em vendas.
A pandemia deu um empurrãozinho. Isoladas em casa, as famílias investiram mais no espaço outdoor e criaram uma demanda acima do normal para a Pool. Estima-se que 120 mil piscinas foram construidas nos Estados Unidos em 2021, contra 96 mil em 2020. O crescimento recente das vendas também foi impulsionado por repasse inflacionário e pela atividade de M&A, com destaque para a compra da Porpoise Pool & Patio por quase US$ 800 milhões. Atualmente, California, Texas, Flórida e Arizona representam 53% das vendas. De forma mais geral, 95% das vendas vem da América do Norte (incluindo Canadá e México), 4% da Europa e 1% da Australia.
Nos últimos dez anos a Pool recomprou quase 20% das suas ações o que, combinado com sua crescente geração de lucro e caixa, potencializou o efeito unitário. Caixa livre por ação, o santo graal!
O nível de endividamente é confortável para o perfil da companhia e está inclusive abaixo do target interno de 1.5x-2x. Com um ROIC próximo de 30% - e historicamente acima de 20% - a Pool é um negócio muito mais eficiente do que a média dos seus pares. E como se tudo não fosse suficiente, a empresa também é uma distribuidora de dividendos.
É claro que toda essa qualidade não passaria despercebida pelo mercado. Por isso, quem manteve ações da Pool nos últimos 10 anos teve uma bela rentabilidade de 22%aa. Hoje a Pool tem um valor de mercado de US$ 13.5 bilhões e negocia a ~18x LTM PE.
Quem quer que se interesse pela Pool deve colocar em perspectiva que a empresa acabou de passar por fortes tailwinds que não devem ser extrapolados para o futuro. Sim, a empresa continuará tendo qualidade e uma boa gestão. Mas manter números como os que andamos vendo é improvável, ainda mais com a estimativa da indústria de apenas 80 mil novas piscinas em 2023. Um crescimento futuro de mid-single digits e margens estáveis com alguma atividade de recompra e dividendos parece uma visão mais realista. Mas esse sou eu…
Obrigado por mais essa leitura!
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Mais um belo post, Leo! Impressionante os resultados da Pool.