Bom dia, família!
O Radar #8 resolveu aparecer na segunda-feira - que, convenhamos, já é quando a maioria de vocês costuma ler mesmo.
Hoje temos uma mistura interessante:
• Uma boa empresa que eu já devia ter comentado na semana passada,
• Duas que já passaram por aqui (uma veio hoje com boas notícias, outra nem tanto),
• E uma que será o tema da próxima edição do Negócios pelo Mundo.
Ou seja: tem de tudo um pouco.
Vamos lá!
1. NowVertical Group $NOW.V
Empresa canadense da área de big data e inteligência vertical, que fornece consultoria e soluções de dados com integração de software proprietário. Passou por um processo difícil logo após seu IPO em 2021, com uma estratégia de roll-up que gerou diluição, dívidas e prejuízos. Um novo CEO assumiu em 2024 e vem executando um bom turnaround. A NowVertical hoje tem atuação global - incluindo nosso Brasil - e grandes clientes como Disney, Nike e Adobe.
2. Shelly Group $SLYG
Empresa búlgara listada em Frankfurt especializada em automação residencial e industrial, desenvolvendo dispositivos IoT.
Última atualização: [Radar #3]
3. ADF Group $DRX.TO
Empresa especializada em projeto, engenharia, fabricação e instalação de estruturas de aço complexas. Participam de grandes projetos como aeroportos e complexos industriais.
Última atualização: [Radar #3]
4. Ondo Insurtech $ONDO.L
A Ondo InsurTech é uma empresa britânica que desenvolve tecnologia para prevenir vazamentos de água em residências, ajudando seguradoras a reduzirem sinistros. Seu principal produto é o LeakBot, um sensor inteligente que detecta microvazamentos e aciona reparos antes que danos maiores ocorram. Atua principalmente em parceria com seguradoras no Reino Unido, Dinamarca, Suécia e Estados Unidos.
1) NowVertical Group $NOW.V
A NowVertical divulgou seu resultado anual no dia 02/04. Pela data podemos ver que ela foi uma das empresas que deixei de fora do ‘Radar #7’. Mas é um bom case, com um bom resultado e com uma cotação que também apanhou nessas discussões tarifárias. Sendo assim, um cenário que ainda vale abordar.
Resultados Financeiros – FY 2024
Receita ajustada: $39.4 milhões em 2024 → +21% vs. 2023
Lucro bruto ajustado: $20.5 milhões → +9% vs. 2023
Despesas administrativas ajustadas: $16.2 milhões → -20% vs. 2023
EBITDA ajustado: $7.2 milhões → +77% vs. 2023
Lucro líquido ajustado: $1.0 milhão (vs. prejuízo de $4.9 milhões em 2023)
Geração de caixa operacional: $2.8 milhões (vs. -$5.4 milhões em 2023)
Vamos aos destaques do call:
1. Desinvestimento: foco e limpeza do portfólio
Desinvestimento de ativos que não se encaixam na visão de longo prazo. O principal exemplo foi a venda da Allegient Defense em 2024. Outras vendas incluem Seafront e Affinio Social.
“Também percebemos e reconhecemos que certas aquisições simplesmente não se encaixavam na nossa visão de futuro nem na estratégia de integração. Tomamos decisões difíceis, porém corretas para o negócio, e nos desfizemos desses ativos.”, Sandeep Mendiratta, CEO
As vendas permitiram uma importante injeção de caixa: $7 milhões já recebidos, com o restante a ser pago nos próximos anos.
2. Expansão nas contas estratégicas
O crescimento orgânico veio da priorização de contas estratégicas:
As 30 maiores contas já representam 60% da receita
Contas com mais de US$ 1 milhão/ano subiram de 3 para 8
Em 2025, o foco se amplia para as 50 maiores contas
"As contas estratégicas são bastante relevantes para nós. Em 2022 e 2023, quando havia pouco ou nenhum foco em expandi-las, o crescimento foi de apenas 3% ou menos. No entanto, quando trouxemos foco, disciplina e alinhamos a equipe de gestão com esse objetivo, conseguimos crescer as 30 principais contas estratégicas em 19%."
3. Skin in the game
O time de gestão ampliou sua participação acionária para 27%, contra 7% no início de 2024.
“Conseguimos observar uma mudança clara na mentalidade da nossa equipe de gestão e na confiança que eles têm no negócio. A participação acionária da liderança cresceu de 7% para 27% em 2024. Isso não é apenas um reflexo do comprometimento — é uma demonstração real da crença no potencial de crescimento da empresa.”
Vale dizer que parte dessa expansão veio da conversão de earn-outs em ações, incluindo o próprio CEO e outros executivos que optaram por receber compensações em ações.
4. Balanço e dívida: desalavancagem agressiva
A dívida total caiu de US$ 29 milhões para US$ 17 milhões em 2024 (queda de 41%), reduzindo a alavancagem de 5x para 1.6x EBITDA.
"Agora temos um balanço forte. Pela primeira vez, temos caixa para cumprir nossas obrigações sem estresse."
Essa redução veio de:
Venda da Allegient
Geração de caixa operacional
Renegociação de earn-outs (conversão em ações e fixação dos valores)
5. Custos administrativos: cortes permanentes
As despesas administrativas caíram 40% do 4Q 23 para o 4Q 24, sem impacto negativo na operação.
"Esses cortes são permanentes. Estruturamos a empresa para funcionar com essa base de custos.", Christine Nelson, CFO
A mudança para o modelo “operator-first” com centros operacionais na Índia e Argentina foi central para o ganho de eficiência.
6. Estratégia de crescimento: foco em integração e parcerias
A empresa prevê crescimento via:
Cross-sell e upsell em contas estratégicas
Parcerias com grandes players (Google, Microsoft, Qlik, AWS, Snowflake, Anaplan)
Escalabilidade com centros de entrega globais (Índia + Argentina)
7. Novos mercados
A NowVertical atua nos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Argentina, e vê oportunidades suficientes pra crescer nessas regiões sem precisar ir atrás de novos mercados.
"Estamos inseridos nos principais mercados de crescimento - Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Argentina e outros mercados emergentes da América Latina. Não precisamos buscar novos mercados: há espaço mais do que suficiente para continuar crescendo nas regiões onde já atuamos."
A empresa estuda uma entrada futura no Oriente Médio, mas sem compromissos no curto prazo.
8. Aumento de capital
Não há plano de aumento de capital no curto ou médio prazo.
"Tenho sido muito claro quanto a isso: desde que assumi como CEO, não há nenhum plano de captação de recursos no momento. A empresa não precisa disso. Nossa posição financeira torna essa resposta simples. Somos lucrativos, geramos caixa e temos diversas estratégias em andamento para acelerar o crescimento orgânico. Não estamos no mercado buscando capital."
9. Planos de uplisting
Apesar de já ter iniciado conversas com Nasdaq e NYSE, não há plano concreto ou cronograma para um uplisting.
"Nosso foco, neste momento, é aproveitar ao máximo nossa posição no TSXV e ampliar a visibilidade da nossa história usando os recursos e a credibilidade que já temos. Quando alcançarmos uma escala adequada e houver uma justificativa clara, o uplisting para a Nasdaq certamente estará no radar. Já tivemos conversas com Nasdaq e NYSE no passado, mas entendemos que o momento precisa ser o certo. Não há pressa, mas a ideia está, sim, no nosso horizonte."
Conclusão
A NowVertical hoje é o retrato de um turnaround ainda recente: quem olha os relatórios percebe que há pontos que ainda deixam a desejar - o principal deles, um balanço que está longe de ser um porto seguro. Mas, ao observar a evolução dos últimos trimestres e a confiança do novo CEO, há boas razões para otimismo.
O corte de despesas administrativas foi decisivo e uma das principais razões para a empresa ter retornado à lucratividade e à geração de caixa. Não existe turnaround sério sem cortes. Agora, o foco deve ser manter ou ampliar o caixa operacional, criando espaço para seguir melhorando o nível de dívida. Até porque a NowVertical não pode mais contar com venda de ativos como fez em 2024. Seja como for, o CEO parece confiante com a geração de caixa da empresa.
Um porém ainda não mencionado está no grande crescimento de “Unbilled receivables”:
Unbilled receivables são receitas reconhecidas antes de serem faturadas. No caso do Q4 2024, representou mais da metade da receita do trimestre. Vamos ter que acompanhar com atenção essa conversão para ‘contas a receber’ e, principalmente, ‘caixa’.
O CEO me parece um bom operador. Entrou na NowVertical após vender sua própria empresa para o grupo, e desde que assumiu como CEO, tem liderado o turnaround como se espera: venda do que não serve, corte de excessos e crescimento do que fica. Seu plano é chegar a US$ 10 milhões de EBITDA com US$ 50 milhões em receita. Ele não foi específico quanto ao prazo, mas é plausível que aconteça em 2025. Se acontecer, estamos falando de algo em torno de 4.5x EBITDA 2025. Bueno!
2) Shelly Group $SLYG
A Shelly divulgou dados preliminares do 1Q 2025 e apresentou um crescimento de 29% nas receitas, totalizando aproximadamente € 26.5 milhões. O resultado superou com folga a projeção anterior da companhia, de até 25% de crescimento no período.
Sobre o drama tarifário, o impacto esperado nas receitas e lucros será insignificante, devido à ainda baixa participação dos Estados Unidos para a Shelly - embora o mercado americano venha registrando crescimento.
Em uma entrevista recente de Svetlin Todorov (CEO da Shelly USA) para a Bloomberg na Bulgária, o executivo disse que a questão tarifária pode até ter um impacto positivo para a operação americana, já que a Shelly considera mover parte da produção para a Bulgária enquanto os concorrentes chineses perderiam espaço no mercado americano. Ainda na mesma entrevista, Todorov afirmou que a Shelly já reajustou os preços nos Estados Unidos e que a projeção atual de crescimento no país é de de 50–60% para 2025, bem acima dos 30–35% de 2024.
Ou seja, boas notícias pra Shelly. A divulgação oficial dos resultados será em 14 de maio de 2025.
3) ADF Group $DRX.TO
A ADF divulgou o resultado do seu ano fiscal 2025 que, no caso, encerrou-se em 31 de janeiro de 2025. Os últimos acontecimentos na ADF têm feito da empresa um grande desafio para os investidores. Vamos recapitular:
No call de dezembro (3Q 2025), o CEO classificou o preço da ação como uma piada. Além disso, anunciou um programa de recompra de até 10% do float.
No fim de fevereiro, a empresa anunciou contratos que totalizavam $120 milhões. Eu mesmo brinquei que a piada continuava, já que mesmo com a valorização de 20% pós-anúncio a ação estava abaixo de 3x ebitda.
Vamos agora para os resultados do FY 2025.
Resultados Financeiros
Receita: C$339.6 milhões (+2.6% vs. 2024)
Margem bruta: 31.6% (vs. 22%)
EBITDA ajustado: C$91.3 milhões (+63.2%)
Lucro líquido: C$56.8 milhões (+50.9%)
Lucro por ação: C$1.84 (vs. C$1.15)
Backlog: C$293.1 milhões (vs. C$330.3 milhões no 3Q 2025 / C$510.9 milhões no 4Q 2024). Não inclui os C$120 milhões recém-anunciados.
Bons resultados, claro. O problema começa no final do release:
"Embora tenhamos anunciado US$ 120 milhões em novos contratos logo no início do atual ano fiscal, a incerteza causada pela imposição de tarifas pelos Estados Unidos está atrasando a conclusão de novos acordos comerciais… Nesse sentido, já podemos confirmar que as receitas para o exercício fiscal que se encerra em 31 de janeiro de 2026 serão menores, principalmente nos primeiros trimestres, e que nossas margens também serão impactadas pelos efeitos diretos e indiretos das tarifas dos EUA"
Vamos ao call:
1. FY26: Margens e Receita sob Pressão
Expectativa de queda nas receitas e margens em FY26, especialmente no 1º semestre, devido a:
Aumento do preço do aço
Tarifas impostas pelos Estados Unidos
Menor visibilidade comercial
2. Medidas para conter impacto das tarifas
Programa de trabalho compartilhado: 200 funcionários com jornada reduzida em até 60% a partir de abril/25, compensados por seguro-desemprego.
Transferência parcial da produção para a planta de Great Falls (Montana) para minimizar exposição às tarifas. Capacidade para gerar de C$100 a C$150 milhões em receita por lá.
3. Exceções ao USMCA e incerteza regulatória
Projetos futuros terão aquisição de insumos priorizando países do USMCA para evitar tarifas
Projetos em andamento não foram totalmente protegidos, o que pode gerar impacto
A empresa monitora mudanças quase semanais nas regras
4. Exposição ao Canadá
ADF está participando de concorrências em Ontário e com a Hydro-Québec, buscando aumentar a receita doméstica
Capex previsto para FY26 é de C$8M, mas pode ser ajustado conforme as condições
Conclusão
O tom do call mostra que o preço da ação talvez já não seja mais nenhuma piada. Tanto é assim que houve pausa nas recompras em fevereiro, mesmo diante da contínua desvalorização do papel. Uma pausa que reflete a prudência da gestão diante de um ambiente que ficou muito mais nebuloso.
O que se impõe, apesar do excelente desempenho do FY 2025, é a deterioração clara da expectativa futura: tarifas sobre produtos canadenses - especialmente aço - vão comprimir top e bottom line. 85% da receita vem dos Estados Unidos, com alta concentração em poucos clientes. O negócio pode ficar feio em pouco tempo dependendo de como a questão tarifária se desenrole.
O alento é que a ADF chega nesse momento com um balanço fortíssimo: C$190 milhões em ativos circulantes - C$60 milhões em caixa - e uma dívida total de apenas C$46 milhões. É um balanço pronto pra aguentar pancada.
O otimismo nas comunicações anteriores - e recentes - da gestão não encontra mais eco na realidade atual. E num mercado que já pune empresas sem exposição direta às tarifas, o que dizer de uma que está no centro da turbulência? A ADF está apanhando. E, por ora, não sem razão.
Quem quiser investir na ADF hoje precisa acreditar em duas coisas: que a empresa vai sobreviver ao impacto das tarifas e que conseguirá reencontrar seu eixo de crescimento quando a poeira baixar. É possível, já que se trata de uma boa gestão com muito skin in the game. Mas a pergunta que ainda ecoa no ar é: para quando será esse alívio?
Porque mesmo o que é barato pode continuar barato por muito tempo.
Ou pior: pode até cair e ficar mais caro.
4) Ondo Insurtech $ONDO.L
A Ondo divulgou resultados preliminares para o ano fiscal encerrado em 31 de março. Vejamos:
1. Principais números
Clientes registrados: 151,000 (+59% YoY)
Receita: ≥ £3.8 milhões (+40% YoY). Número seria ainda melhor não fosse por alguns atrasos na Suécia
Receita recorrente contratada anualizada: £5.9 milhões (impulsionada por contrato com Hanover Insurance, uma top20 seguradora residencial nos Estados Unidos)
Receita diferida: £3.1 milhões (LeakBots vendidos mas ainda não entregues)
EBITDA: Empresa segue no caminho para EBITDA positivo até março de 2026
Caixa: £4 milhões (antes do pagamento de £1.3M à HomeServe em abril)
Sem necessidade de captação adicional prevista
2. Expansão nos EUA
Clientes nos EUA: 34,000 (+435% YoY), representando 47% do crescimento total
Presença em 23 estados com 7 seguradoras contratadas (incluindo 3 do Top 20 americano)
Cobertura potencial: 14 milhões de residências entre EUA, Reino Unido, Suécia e Dinamarca
Feedback do cliente: NPS de +80 | Satisfação: 4.93/5
Conclusão
A Ondo é uma empresa que tenho boas expectativas e o case passa por crescer nos Estados Unidos. Diante disso, dá pra dizer que as notícias foram ótimas. 435% de crescimento de clientes, Estados Unidos cada vez mais representativo, avançando nas principais seguradoras do país e ainda com muito campo aberto pela frente. CEO Craig Foster disse bem quando falou em “Real momentum in the right market”.
Spoiler: Ondo será a próxima empresa a ser apresentada em ‘Negócios pelo Mundo’