Bom domingo, família!
E, assim como quem não quer nada, chegamos à décima edição do Radar - essa nossa conversa dominical onde atualizo vocês sobre algumas das empresas que acompanho. Passa rápido...
Confesso que a próxima vai demorar um pouco. Vou ficar ausente por uns dias, visitando e conhecendo uma região cujo conjunto de oportunidades já me chama atenção há algum tempo. Mas volto. Sempre volto.
Até lá, vamos com o que temos pra hoje:
1. Anexo Group $ANX.L
Empresa britânica especializada em serviços integrados de locação de veículos por crédito e assistência jurídica, voltados para motoristas que não tiveram culpa em acidentes e que não possuem boas condições financeiras.
Apresentação da Anexo Group: [Link]
2. McCoy Global $MCB.TO
Empresa canadense que fabrica e vende equipamentos para a indústria de petróleo e gás. Seus produtos são usados principalmente na construção de poços, ajudando a conectar e fixar tubos com segurança durante a perfuração. Além disso, a McCoy também desenvolve softwares que permitem monitorar essas operações em tempo real.
Última atualização [Radar 6]
3. Simply Better Brands $SBBC
A SBBC é uma empresa no segmento de nutrição saudável que utiliza um modelo de crescimento rápido via DTC e parcerias com varejistas estratégicos. Seu grande motor de expansão é a TRUBAR, uma marca de barra proteica a base de planta que vem ganhando destaque como uma das barras proteicas mais vendidas na Amazon e no mercado tradicional.
Última atualização: [Radar #9]
1) Anexo Group $ANX.L
A Anexo é uma velha conhecida por aqui. Apresentei a empresa no meio do ano passado, logo depois que o Ivan Barboza da gestora Ártica anunciou uma posição no papel. Na época, as ações estavam baratas. Tão baratas que, acatando desejo dos acionistas, o conselho acabou por autorizar um programa de recompras. Desde então, as ações chegaram a cair mais uns 20%. Nada melhor para a empresa recomprar, certo?
Errado!
Em vez disso, o trio que manda na Anexo veio com outro plano: comprar a Anexo só pra eles.
Alan Sellers, chairman e dono de 17% da Anexo;
Samantha Moss, digníssima esposa de Mr. Sellers e diretora da Bond Turner, com outros 17% em mãos;
DBAY Advisors, com 28.5% de participação.
São esses três que montaram um consórcio para uma tentativa de aquisição da companhia. A DBAY já havia feito movimento semelhante em 2021, acenando com uma oferta de £1.50 em dinheiro por ação. O conselho considerou o valor insuficiente e a DBAY Advisors retirou a oferta. Essa foi a declaração do conselho da Anexo em 2021:
"As negociações com a DBAY não resultaram em uma oferta que, na visão do conselho, refletisse o valor da empresa e que, portanto, o conselho se sentiria apto a recomendar aos acionistas."
Desde então, a Anexo se fortaleceu operacionalmente e está prestes a concluir grandes ações judiciais contra fabricantes de automóveis - como Mercedes e BMW - o que pode gerar uma enorme entrada de caixa. Convenhamos que esse cenário, somado às ações negociando na faixa dos £0.60, criou um ambiente oportuno pra uma nova tentativa de takeover. Um timing cirúrgico. E agora, a DBAY trouxe o casal Sellers/Moss para o seu córner. Talvez isso adoce o coração do conselho dessa vez.
O plano anunciado sequer menciona dinheiro. Ao invés disso, os minoritários receberiam “loan notes” da nova entidade controlada por DBAY, Sellers e Moss. O que eu acho? Acho que é melhor mastigar vidro do que receber 50% do valor patrimonial de uma empresa como a Anexo em títulos de dívida dessa nova entidade.
A proposta oficial pela Anexo ainda não foi divulgada. O que aconteceu até agora foi um comunicado do consórcio anunciando que consideram fazer a proposta. Esse comunicado ativou o código de takeover do Reino Unido, que estabelece que o consórcio tem agora até dia 20 de maio para anunciar uma intenção firme de fazer uma oferta ou então cair fora.
O mercado já entendeu o que está em jogo. As ações subiram 20% com a notícia. A Anexo agora entra na minha pilha de special situations - uma daquelas histórias que merecem ser acompanhadas de perto.
A depender da proposta, espero que os minoritários reajam. Talvez não haja muito o que possam fazer. Mas talvez haja.
Para quem quiser mergulhar nesse tipo de situação, recomendo a leitura de uma das primeiras postagens de ‘Negócios pelo Mundo’, sobre a Hunter Douglas. Um case que foi muito bacana na época e acabou envolvendo JP Lemann no final.
2) McCoy Global $MCB.TO
A McCoy Global anunciou que o seu sistema smarTR - criado para reforçar a integridade dos poços, melhorar a segurança e otimizar a instalação de tubos - superou as expectativas nos testes de campo nos Estados Unidos. A confiança dos clientes, incluindo um dos maiores prestadores de serviços de instalação de tubos do país, garantiu à empresa um contrato de $ 11 milhões para fornecimento do smarTR.
Além dos equipamentos, o acordo também prevê receita recorrente de SaaS, com integração remota e operação automatizada. As entregas devem acontecer em 2025 e o mercado reagiu muito bem à notícia - como era de se esperar. Além de representar um contrato importante e uma validação forte do smarTR, o anúncio também sinaliza o início de uma migração no mix de receita, saindo do hardware puro para incluir software recorrente.
3) Simply Better Brands $SBBC.V
SBBC divulgou seus resultados de 2024. Vamos ver o que rolou:
Resultados Financeiros
Receita líquida: $45.3 milhões (+69% YoY).
Receita TRUBAR: $43.6 milhões (+77% YoY; 96% do total da empresa).
DTC representa 11% das vendas do TRUBAR (Amazon, principalmente)
Margem bruta: 29% (vs. 28% em 2023).
EBITDA ajustado: $0.5 milhão (melhoria de $1.4 milhão YoY).
Prejuízo líquido: -$11.5 milhões (grande impacto contábil de warrants)
Ex-warrants: -$4.4 milhões (vs. -$8.5 milhões em 2023)
Operações e Expansão
15,000 lojas alcançadas até o fim de 2024. (vs 4,500 em 2023)
Lançamento em varejistas estratégicos: Costco, Whole Foods, Walmart, CVS, GNC.
Crescimento DTC: vendas diretas aumentaram 365% ao longo de 2024.
Lançamentos relevantes em Q4 2024:
Walmart Canadá (300 lojas)
GPM Investments (1,400 lojas de conveniência nos EUA)
Love's Travel Stops (600 lojas)
Albertsons (500 supermercados, várias bandeiras)
Mudança Estratégica
Nome será alterado para TRUBAR Inc.
Venda da marca No B.S. (binding LOI assinado, fechamento esperado para Q2 2025).
Foco 100% no crescimento de TRUBAR.
Eventos Pós-Fechamento (2025)
Expansões confirmadas:
Sam’s Club (EUA) — rollout nacional
Gopuff (E-commerce)
GoMart (124 lojas de conveniência regionais)
Costco West (Canadá)
Nature’s Emporium e Freson Bros (Canadá)
Target (EUA) — rollout nacional.
Call:
1. Rebranding para TRUBAR
Mudança de nome de Simply Better Brands para TRUBAR.
Foco exclusivo na marca principal.
"A iniciativa mais importante que temos em andamento para o próximo ano é a reformulação da empresa para TRUBAR."
2. Expansão agressiva de distribuição
4,500 lojas em 2023 ➔ 15,000 lojas em 2024.
Meta de ultrapassar 25,000 lojas em 2025.
Expansão para México via Costco confirmada.
"Temos essa grande meta de ultrapassar 25,000 lojas, em nível nacional, regional e também global."
3. Explosão no DTC Amazon
Run-rate atual de US$ 13 milhões na Amazon
Dois sabores entre os top 10 da Amazon
Forte busca orgânica pela marca no site
4. Operação & equipe
Modelo asset-light baseado em parcerias terceirizadas (fabricação e logística)
Nova liderança com histórico em grandes CPGs (Mars, Red Bull, L'Oréal)
Implementação de ERP prevista até o final de Q2
5. Novas iniciativas
Lançamento de novos sabores e formatos (packs diferenciados).
Produtos com alta aceitação e esgotamentos recorrentes.
6. Foco em melhorar margens
Trade spend atual de 20%; meta de 15%
Margem bruta de 30% hoje; objetivo de chegar a 40%
7. Desempenho acima dos concorrentes
SPINS realizado em 8 mil lojas mostrou TRUBAR vendendo 30% melhor que concorrentes diretos.
Categoria de barras de proteína em forte crescimento.
8. Internacionalização
Expansão internacional só com parceiros fortes (ex.: Costco México)
Sem impacto relevante de tarifas até agora
"Há tantas oportunidades aqui nos Estados Unidos que você não quer diluir seus esforços."
9. Toda a energia focada em TRUBAR (melhor parte!)
Sem intenção de M&A.
Reforço de time e marketing para escalar a TRUBAR nos EUA.
"Estamos focados na TRUBAR, ponto final. Estamos trazendo essa mensagem simples à vida com a mudança de nome, o rebranding, e estamos pausando todas as outras atividades de desenvolvimento de negócios para concentrar todos os nossos recursos na construção da TRUBAR. Acreditamos que temos um verdadeiro unicórnio nesse mercado."
Conclusão:
O resultado da SBBC já começou com uma leve tropeçada. A TRUBAR vendeu $43.6 milhões, um pouco abaixo do guidance que eles mesmos aumentaram no meio do ano passado ($45–50 milhões). Eu não acho que seja o fim do mundo, mas sempre tem quem ache. Pra evitar novas dores de cabeça, a gestão preferiu não dar guidance pra 2025, pelo menos por enquanto. Parece que se empolgaram demais no ano passado e agora resolveram ser mais moderados:
“Vamos primeiro concluir o fechamento do primeiro trimestre, e então talvez publiquemos um guidance junto com o relatório das atividades do Q1. Ainda há vários acordos importantes que esperamos fechar neste mês e no próximo.”
O que me preocupava era a possibilidade de a empresa engajar em aquisições depois que publicaram o shelf prospectus. Na semana passada, escrevi:
'O que eu gostaria de ver agora é exatamente o contrário: foco total na TRUBAR.'
E fechei o texto com:
'Vamos ver como a gestão se posiciona em relação aos seus planos de M&A no call que se aproxima.'
Pois bem, parece até que o pessoal lá andou lendo Negócios pelo Mundo. Foram explícitos: o foco é total e exclusivo na TRUBAR, sem intenção de aquisições.
Mudaram até o nome da empresa para TRUBAR!
O que mais eu poderia pedir?